Teve início nesta terça-feira (27), em Brasília, o workshop “Construindo a Resiliência da Infraestrutura de Transporte na América Latina”, uma iniciativa do Ministério dos Transportes (MT) em parceria com a Coalizão para Infraestruturas Resilientes a Desastres (CDRI), entidade vinculada à ONU, e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O encontro, que segue até quinta-feira (29), reúne representantes de governos e especialistas de diversos países com o objetivo de discutir soluções práticas e sustentáveis para os impactos das mudanças climáticas sobre a infraestrutura de transporte da região.
Durante a abertura, o subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Cloves Benevides, destacou a urgência de repensar o planejamento e a execução de obras, especialmente após a tragédia recente no Rio Grande do Sul. Ele lembrou que cerca de 8% da infraestrutura de transportes do Brasil é afetada anualmente por eventos climáticos extremos, como inundações, secas e deslizamentos. “É um desafio, mas também uma oportunidade para repensar nosso modelo econômico e nossa capacidade de enfrentar os extremos climáticos”, afirmou.
O secretário-executivo do MT, George Santoro, reforçou a importância do tema, lembrando que as mudanças climáticas já afetam diretamente a mobilidade da população e o funcionamento da logística no país e na América Latina como um todo. “Esses eventos têm sido cada vez mais recorrentes e comprometem estradas, ferrovias, portos e aeroportos, gerando prejuízos bilionários e exigindo respostas estruturadas dos governos”, disse.
De acordo com dados do Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres (CRED), a América Latina enfrentou mais de 400 grandes eventos naturais entre 2010 e 2020, com sérios impactos econômicos e sociais. A diretora da CDRI, Ranjini Mukherjee, ressaltou que a maior parte da infraestrutura necessária até 2050 ainda precisa ser construída, o que representa uma chance única de adotar padrões resilientes desde o início. “Investir em resiliência é colher benefícios a longo prazo, como segurança, continuidade operacional e menores custos de recuperação”, explicou.
Na mesma linha, o diretor-geral da ANTT, Guilherme Theo Sampaio, defendeu uma abordagem regulatória mais proativa e integrada. Segundo ele, é preciso ir além da legislação e incentivar os regulados dos quatro modais – rodoviário, ferroviário, de cargas e de ageiros – a adotarem medidas efetivas. “Estamos construindo uma regulação que não apenas obriga, mas estimula soluções inovadoras e sustentáveis”, afirmou.
O Ministério dos Transportes apresentou também as ações concretas já em curso para promover a sustentabilidade no setor. Entre elas, estão a Portaria nº 622/2024, que destina 1% da receita bruta das concessões rodoviárias a projetos de resiliência climática, e a Portaria nº 689/2024, que exige compromissos ambientais em projetos com debêntures incentivadas. O MT também colabora com a Taxonomia Sustentável Brasileira, ferramenta que define critérios para investimentos verdes.
Outros destaques são o relatório socioambiental da BR-319, construído com base em consultas públicas, o sistema de pedágio “free flow”, testes com caminhões elétricos de longa distância e a participação ativa na Política Nacional do Hidrogênio, que incentiva o uso de tecnologias limpas no transporte.
A programação do workshop prevê ainda plenárias e sessões técnicas sobre temas como financiamento, governança, riscos sistêmicos e características específicas de cada modal de transporte. O evento será encerrado com a apresentação do Modelo Global de Risco de Infraestrutura e Índice de Resiliência (GIRI), uma ferramenta que permitirá avaliar vulnerabilidades e planejar estratégias de mitigação dos efeitos climáticos e geológicos sobre os ativos de transporte em toda a América Latina.
Fonte: cenariomt