Na mais extensa migração humana já registrada, as pessoas saíram da África e chegaram até a Patagônia há 14,5 mil anos, segundo um novo artigo. O ambicioso estudo, feito por mais de 48 pesquisadores, se debruçou sobre análises genéticas de dezenas de povos nativos do nosso continente para entender quando os primeiros humanos chegaram à América do Norte e, mais tarde, à América do Sul.
A pesquisa também mostra que populações originárias do continente sul americano contam com menor variabilidade genética, o que contribuiu para a dizimação desses grupos com a chegada dos europeus à região.
A divisão entre as populações do norte da Eurásia e a população originária da América do Norte ocorreu entre 26.800 mil anos a.C e 19.300 anos a.C, conforme o artigo publicado na revista Science em maio. Os resultados são condizentes com outros indícios arqueológicos: uma pegada humana encontrada no Novo México, nos Estados Unidos, por exemplo, data de entre 23.000 mil a.C e 21.000 anos a.C.
Alguns milhares de anos depois, houve a divisão das linhagens ancestrais da América do Sul, que ocorreu entre 13.900 a.C e 10.000 a.C a partir de uma população da Mesoamérica.
Mas os achados da pesquisa não param por aí. O estudo encontrou diferenças substanciais nos genomas das populações da América do Norte e do Sul. O fluxo de genes entre diferentes etnias teve um papel fundamental no primeiro grupo, mas as populações da América do Sul apresentaram um padrão contrário.
As barreiras geográficas e ambientais fizeram com que houvesse uma maior unidade de genes entre eles, em um processo similar ao que acontece com populações de ilhas. “Depois de se separarem em diferentes grupos, eles se tornaram isolados dentro de suas fronteiras geográficas. Esse isolamento levou a uma divergência entre grupos e resultou em uma diversidade genética reduzida”, explica Kim Hie Li professora da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e primeira autora do estudo.
A baixa diversidade genética impactou, de forma particular, genes relacionados à imunidade, o que tornou os indígenas mais vulneráveis a patógenos aos quais não foram expostos. Mas fatores sócio-econômicos também se juntam a essa mistura, como o limitado à assistência médica.
“É importante que autoridades públicas de saúde desenvolvam medidas especiais como medida de proteção e interação com populações indígenas para minimizar o espalhamento de infecções e melhorar apoio médico”, afirma o artigo.
De acordo com a Li, um dos principais desafios do estudo foi conseguir as amostras, já que grande parte delas veio de grupos indígenas que vivem em comunidades de difícil o. Para conduzir pesquisas genéticas, é preciso autorização, que pode ser difícil de obter. “Nossa equipe investiu esforço significativo em estabelecer colaboração com cientistas locais e garantir aprovação ética”, contou.
Fonte: abril